domingo, 29 de março de 2015

Perturbação de oposição e desafio



A Perturbação de oposição e desafio – POD, pode ser caracterizada como, um padrão persistente de comportamentos desobedientes e desafiadores, apresentados pela criança nas suas relações interpessoais, especialmente com figuras de autoridade, tais como, pais e professores, mas também se manifesta com os seus pares.

É considerada POD, no caso de a criança ultrapassar os limites constantemente (sem ser considerado como “mau comportamento”) e se os sintomas persistirem pelo menos durante 6 meses, onde estão incluídas as seguintes atitudes:


1-Tem problemas frequentes na escola:

2-Perde facilmente o controlo;

3-Desafia os adultos constantemente;

4-Incomoda os outros intencionalmente;

5-Contesta e recusa-se  a cumprir regras;

6-Culpabiliza quase sempre os outros pelos seus erros;

7-Zanga-se facilmente é pouco paciente;

8-É vingativo e rancoroso;

9-Tem poucos amigos;

O comportamento desobediente, pode manifestar-se de várias maneiras, a criança não se comporta em função das regras, implicitamente já adquiridas ou apresenta dificuldade em obedecer aos adultos quando impõem determinada regra, isto é, parece que aceita a regra, mas depois revela muita dificuldade em cumprir as ordens impostas.


Os comportamentos apresentados podem surgir em casa, na escola ou em qualquer outro lugar, principalmente com os adultos mais próximos, como pais, avós, professores, tios. Mas, este tipo de comportamento não acontece com pessoas desconhecidas.


Estes comportamentos influenciam negativamente as suas interações sociais, especialmente com as crianças da mesma idade, pelos frequentes conflitos e discussões que ocorrem nas brincadeiras. Consequentemente, os colegas acabam por manifestarem sentimentos de rejeição pelas crianças que apresentam esta perturbação, o que contribui para diminuir a sua autoestima, pelo facto de ser muitas vezes colocada de parte.



Como lidar melhor com comportamentos opositores?

Em casa e na escola, os adultos sentem grande dificuldade em lidar com estes comportamentos e em gerir as suas próprias emoções, sendo por este motivo, ainda mais difícil, ensinar estas crianças a comportarem-se adequadamente. As crianças com POD precisam de ordens firmes, no entanto, nunca deve ser esquecida a sua grande necessidade de afeto.

Estratégias que ajudam a lidar melhor com as crianças:

1-Falar com tom de voz calmo e tranquilo – Evite irritar-se ou falar com tom de ameaça.

2-Dar ordens simples e concretas – Se der explicações complexas, a criança tem tendência para se dispersar quando a é mensagem transmitida. Deve dizer-lhe de forma especifica que comportamento espera da dela em determinada situação.

3-Utilizar linguagem simples e adequada à idade da criança – Garante melhor transmissão da mensagem.   

4- Estabelecer ordens de forma clara e assertiva – Na altura em que está a impor uma regra, transmita o que deseja de forma direta. Nunca pergunte à criança se quer ou não fazer determinada tarefa, quando pretender que seja executada.

5-Manter contacto visual – Aumenta a possibilidade de perceber que a criança entendeu o que lhe foi pedido. Solicitar à criança para repetir a ordem que lhe foi dada, ajuda-nos a ter certeza de que foi compreendida.

6-Os progenitores devem ter a mesma atitude – Se os pais têm atitudes diferentes em relação à criança ou se divergem de dia para dia, só confunde a criança e pode até utilizado para a criança manipular os pais.

7- Evitar impor regras antes do tempo – As ordens devem ser sempre que possível, referidas no momento em que têm de ser cumpridas, evitando também a antecipação do conflito.

8- Elogiar o comportamento da criança – Em todas as situações deve ser elogiado e reforçado o comportamento desejado. As crianças fazem de tudo para ter atenção e se têm essa atenção quando se portam bem, aprendem uma nova forma de ter atenção, aumentando a probabilidade de manter comportamentos adequados. Se a criança só tem atenção quando faz disparates, vai continuar a procurar atenção, mesmo que seja pela negativa e a manter comportamentos desadequados. Evite sempre que possível atitudes negativas.

9-Oferecer opção de escolha sempre que possível – Discriminar bem as opções e as consequências, permite à criança sentir maior responsabilidade da sua escolha. Explicar a causa-efeito ajuda a criança a desenvolver competências de autorregulação.

O meio ambiente exerce um poder muito grande sobre o emocional das pessoas em geral, sejam elas crianças ou adolescentes. 

Se os sintomas persistirem para além de um período superior a 6 meses ou se são muito violentos e intensos, procure um psicólogo para compreender o que se passa com a criança e evitar que esta perturbação não deixe sequelas no seu desenvolvimento.  A psicoterapia pode ser importante, não só para a criança aprender a lidar melhor com as emoções e minimizar as dificuldades na sua interação social, como para ajudar os pais a educar melhor uma criança com POD, por ser uma perturbação que além de ser difícil de lidar é muito desgastante.

Compartilhe este artigo, pode fazer diferença na vida de uma criança!


quinta-feira, 26 de março de 2015

Crianças diferentes na escola

Os meninos com problemas de desenvolvimento precisam apenas de apoios especiais, na mesma escola.

alt

Se uma criança for míope, ninguém contesta que frequente a escola, apesar de, sem óculos, ter dificuldade na aprendizagem. Os meninos com problemas de desenvolvimento precisam apenas de apoios especiais, na mesma escola.

Depois de um período em que as crianças com problemas de comportamento ou desenvolvimento não entravam no sistema educativo ou saíam dele precocemente, passou-se para uma fase da chamada ‘integração’, na qual as crianças com problemas deveriam ‘fazer um esforço’ para serem mais parecidas e acompanharem as consideradas ‘normais’. O passo seguinte parte para um novo conceito: a inclusão. Admitir que o universo da população é composto por seres humanos com diferentes características de personalidade, temperamento, competências, dons e talentos e que os ecossistemas, como a Escola, devem incluir todos, salvo raras e admissíveis exceções. Dando os apoios necessários a cada um, mas estimulando o que a partilha de saberes, experiências, vivências e aspetos sociais pode trazer de bom para cada um e para todos.
Se uma criança for míope em grau moderado ou elevado, ninguém contestará que frequente a escola, apesar de, sem óculos, ela ter grandes dificuldades no processo de ensino/aprendizagem. Além dos óculos, os professores tentarão tudo para que a sua deficiência não resulte emhandicap, como, por exemplo, coloca--lo na fila da frente.
Desta vez vou abordar uma outra situação: as chamadas doenças do espectro do autismo. Com a discussão que tem havido sobre eventual redução de apoios socioeducativos na educação especial, creio ser importante relembrar uma situação comum, que engloba várias doenças, mas que se revelam por sintomas e sinais parecidos. Para que as crianças possam beneficiar de todos os apoios necessários, no sentido de uma escola verdadeiramente inclusiva.
Autismo
Usa-se e abusa-se do termo ‘autista’. Se alguém não liga ao que dizemos rotulamo-lo de “autista”. Se um político, num debate, ignora o que o interlocutor está a dizer, lá o classificamos: “parece autista”. Os jovens são ‘autistas’ porque não ligam às vezes ao que os pais dizem. Um exagero. Um erro. Uma leviandade.
Por outro lado, tudo o que mexe é hiperativo e qualquer um que tenha momentos de distração poderá ter, com grande probabilidade (pela parte dos leigos, esclareça-se), um «défice de atenção».
Talvez valha a pena separar o trigo do joio. Há situações de autismo, assim como há síndromas de hiperatividade, com ou sem défice de atenção. E estas situações, a par das chamadas síndromas disléxicas e outras, devem ser diagnosticadas e tratadas atempadamente, para bem de todos. Mas daí a cair no exagero da rotulação vai um passo, inadmissível.
A palavra autismo vem do grego, da palavra «auto», significando «fechado sobre si mesmo». Assim, o autismo caracteriza-se por uma dificuldade extrema no relacionamento interpessoal e social, associado a problemas na comunicação verbal e não-verbal, grande atração por rotinas, movimentos e atividades repetitivas e monótonas, e uma relativa estreiteza de interesses, com grande stresse quando as rotinas se modificam.
Assim como há uma grande dificuldade ou mesmo impossibilidade, na criança autista, de se relacionar com os outros, também está comprometido o reverso da medalha – a criança não entende adequadamente os sinais que lhe são transmitidos, da fala à expressão facial e até a um gesto ameaçador ou um de afeto, não os sabendo interpretar, nem revelando interesse por eles.
Este grande grupo de situações – em que algumas crianças manifestam mais uns aspetos do que outros –, incluem entidades mais conhecidas atualmente, como o síndrome de Asperger e o síndrome de Rett, entre outras.
No conjunto das crianças, e tendo em conta a dificuldade em conseguir agrupar todas estas características no mesmo saco, pode estimar-se que seis em cada mil apresentam, em cada ano, sinais de que podem sofrer de uma destas situações. Reportando estes dados para Portugal, poderíamos dizer que todos os anos cerca de oitocentas novas crianças apresentarão alguma patologia desta área. Os rapazes têm uma incidência muito mais elevada: cerca de 4 a 5 vezes mais do que as raparigas, chegando a ser superior em alguns casos particulares, como o síndrome de Asperger.

Sinais e sintomas
As situações do «espectro do autismo» têm quatro grandes áreas de problemas:
• dificuldade na interação social e nas relações interpessoais;
• problemas acentuadas na comunicação – verbal e não verbal;
• comportamentos repetitivos, interesses obsessivos e estreitamento da visão da vida e das atividades;
• insegurança face a alterações de rotina;
Se pensarmos que estas áreas são prioritárias para nos sentirmos bem, para comunicar e nos relacionarmos – desde a família à sociedade –, poderemos entender bem que são deficiências que, facilmente, se podem tornar em handicaps, alterando profundamente a qualidade de vida da criança e dos pais, designadamente o seu futuro.
Mas atenção: estas áreas são muito vagas e podem ser sub ou supravalorizadas, conforme as circunstâncias e as pessoas. Muitas crianças relacionam-se mal com pessoas que não conhecem. Outras estão alheadas a ver televisão e não ouvem os pais chamar – até podem ter uma otite serosa e ouvir mal. Outras desviam o olhar quando sentem que fizeram asneiras e não querem encarar os pais. Ainda podem existir atrasos da fala normais e crianças que comunicam de formas a que muitos adultos não têm acesso. Finalmente, há idades em que os movimentos repetitivos e estereotipados são securizantes. Se se acabou e mudar de escola ou de casa, ou se se sofreu um trauma como uma hospitalização prolongada, podem apenas representar uma defesa.
As crianças com autismo têm uma característica: desinteresse pelas outras pessoas, não respondendo quando se chama pelo seu nome e evitando o contacto «olhos nos olhos».
A falta de compreensão das diversas formas de expressão que acompanham a fala – como a expressão visual, as rugas da cara, o sorriso (ou a zanga) e outros pormenores que nos permitem ver se uma pessoa está a brincar ou a fala a sério, se está alegre ou zangado, ou preocupado – leva a que a criança se feche num mundo dela, com total falta de empatia.
Muitas vezes, essa dissociação entre si próprios e a quem se referem quando falam deles leva a que, em vez de dizer «eu», digam «o Manel», «o Vasco», ou seja, se refiram pelo seu nome em vez de ser na primeira pessoa, como fator revelador de distanciamento até em relação a si próprios.
Para além da atração pelos movimentos repetitivos e rotativos, há uma diminuição da sensibilidade à dor, mas uma sensibilidade exagerada ao som, toque ou outros estímulos sensoriais, o que leva a um desagrado quando os pais (e especialmente outras pessoas) lhes tentam pegar, acariciar ou dar mimo.
Na síndroma de Asperger, por exemplo, as crianças revelam uma grande capacidade de aquisição de conhecimentos, podendo chegar quase à exaustão de um assunto, mas falta-lhes muitas vezes o doseamento emocional que leva a adequar o que se sabe ao que é realmente importante e pertinente.
Quais as causas?
Ainda não se conseguiu chegar a uma conclusão sobre as causas dos síndromes autistas, provavelmente porque haverá um conjunto de doenças diferentes, com causas também diferentes.
Os estudos da neurociência revelaram alterações na composição e no funcionamento do cérebro. Outros estudos referiram haver uma deficiência dos neurotransmissores, substâncias – como a serotonina – que facilitam a passagem dos estímulos e da informação entre os neurónios.
Uma coisa é certa: sejam quais forem as causas destas situações, os pais não têm qualquer culpa. Nem quanto à herança genética que transmitiram aos filhos, nem quanto à educação que lhes deram, práticas que tiveram ou eventuais erros e lacunas que (como todos nós) cometeram. É fundamental sublinhar isto vezes sem conta.

O que há a fazer?
 Com um tratamento e abordagem adequadas, há grande probabilidade de a criança poder evoluir para uma vida com maior autonomia. A adolescência é um período crítico, por razões óbvias. Face a um leque de sintomas desta ordem, há depois testes mais específicos que podem auxiliar ao diagnóstico – mas a visão multidisciplinar, que passa pelos neuropediatras, neuropsicólogos e psicólogos – , é essencial. A intervenção, depois, de um terapeuta da fala, de especialistas de psicomotricidade e outros técnicos destas áreas é essencial. Os terapeutas do âmbito da neuropsicologia, psicomotricidade e comunicação, entre outros, abriram novos horizontes para que, mesmo não se podendo modificar o funcionamento cerebral ou o «erro» que existe no «sistema operativo», se possam colmatar essas lacunas com aprendizagem de competências e de desempenhos. Uma coisa é certa: quanto mais cedo o tratamento começar, maiores as probabilidades de êxito e o tratamento só pode ser precoce se o diagnóstico for, ele mesmo, também precoce.
E se o apoio educativo e a inclusão escolar não faltarem, claro....
 Pediatra Mário Cordeiro, in Pais&Filhos

quarta-feira, 25 de março de 2015

A depressão das crianças


É verdade que as dificuldades apuram, muitas vezes, o engenho. Não tanto porque o sofrimento que elas não deixam de trazer seja recomendável mas, antes, porque quando a dor não é nem excessivamente aguda nem extensa em demasia acaba por mobilizar os recursos saudáveis que temos ao nosso dispor. É claro que nunca há males que vêm por bem! E é verdade que uma formulação como essa tem qualquer coisa de triunfal que acaba por ser um bocadinho batoteira. Em primeiro lugar, porque a sabedoria nos ajuda a compreender, por antecipação, os perigos que nos ameaçam, levando a que os evitemos. E, em segundo lugar, porque sempre que agradecemos as dores menos os aproveitamos com a humildade de quem vê nelas uma oportunidade para aprender. Seja como for, também para muitos pais, os males do seu crescimento nunca terão vindo por bem. Mas sem eles, muito provavelmente, nunca teriam reunido as competências com que a “escola da vida” lhes deu garra e perseverança, e os terá ajudado a ser acutilantes e afoitos para se tornarem mais guerreiros, mais aventureiros e vencedores.

Se é verdade que a vida nunca é cor de rosa para ninguém é de esperar que, apesar disso, todos os pais queiram poupar aos filhos as experiências mais cinzentas do seu crescimento, por mais que elas possam ter dado um empurrãozinho fundamental para que eles sejam, hoje, como são. Mas, sendo assim, o grande desafio de todos os pais passa por não deixarem de dar colo, por não deixarem de proteger os filhos (nomeadamente, protegê-los das dores mais preponderantes da sua própria infância) e, ao mesmo tempo, por lhes criarem as condições para que eles desenvolvam competências para o insucesso sem as quais talvez não se conquiste nem a autonomia nem a robustez que os tornem fortes e audazes. Por outras palavras: como se pode conquistar aquilo que algumas dores trarão sem que se tenha de sofrer com elas? Será esta, provavelmente, a quadratura do círculo que torna a educação dum filho desafiante e complexa. E a pergunta que fica será: como é que isso se faz? Com regras claras, com um permanente incentivo à autonomia e com uma relação mais verdadeira com os insucessos, por exemplo.

Esta ideia tão protetora que os pais acabam por ter em relação ao crescimento das crianças é compreensível. E ajuda-nos a perceber que, se as protegem quase demais, talvez eles tenham tido muito mais experiências infantis de sofrimento do que as suas dores declaradas levariam a supor (e que não terão sido, todas elas, compostas por acontecimentos com um formato XXL de dor, mas que talvez tivessem a ver com incidentes, mal-entendidos, falhas e omissões dos seus pais que eles próprios não terão valorizado). Mas onde nos leva este ideal tão anti-depressivo de crescimento? Será razoável para o crescimento duma criança? E, por mais que a aspiração dos pais nos toque a todos, pode uma criança crescer à margem dos riscos ou das dores? E será que quanto mais as protegemos da dor mais as tornamos felizes? Receio que não. Voltemos à “fórmula” anterior: a mim parece-me que quanto mais somos omissos nas regras (e esquecemos que os pais bonzinhos são pais suficientemente maus), quanto mais condescendemos com a falta de autonomia das crianças (a que os pais chamam preguiça, como se fosse ela um “defeito de fabrico”), e quanto mais pomos “pó de arroz” nos seus erros e nas suas falhas (como se qualquer dor mais parecesse um traumatismo) mais acabamos a criar condições para que as crianças se deprimam. Porquê? Porque apesar de lhes darmos recursos fantásticos para o seu crescimento, talvez as poupemos às oportunidades de, com pequenas dores, elas os lapidarem e desenvolverem. Chegamos, assim, a um dilema: por falta de “dores do crescimento”, talvez não deixemos de lhes criar uma “imunodeficiência adquirida” à dor. E − sim! − em vez de as tornarmos robustas, ajudamos, mais do que seria o nosso desejo, para que se tornem frágeis. Mas − que isso fique claro − isso deve-se mais à ideia de que os bons pais nuÉ verdade que as crianças.
 
Mas será que a fragilidade das crianças é uma fatalidade, como se elas estivessem condenadas a estar tristes? Claro que não! E é aqui que nos devemos centrar: por mais que erremos, muitas vezes, como pais, as crianças só parecem... crianças, em relação a tudo aquilo que se passa nas suas vidas, não tanto porque vivam distraídas mas, antes, porque os recursos saudáveis que os pais lhes vão fornecendo as torna autênticos “todo-o-terreno”. Não digo que sejam invulneráveis ao sofrimento. Mas que, apesar das nossas falhas, elas não se partem. Mais: os erros dos pais são, até, o sal do crescimento das crianças.

Mas, se é assim, porque é que se fala, como nunca se falou, da depressão das crianças? É verdade que todos os anos se registam muitos milhares de novos casos psiquiátricos de depressão nas crianças? E que isso se deva ou ao número de divórcios, ou à falta de famílias alargadas ou ao consumo de videojogos, como há quem afirme? Tentamos ir, de novo, pela sensatez. Não é verdade que hoje as crianças se deprimam mais! O que se passa é que a abordagem psiquiátrica do sofrimento das crianças, isso sim, tem ganho a preponderância que, felizmente, noutros tempos não existia. E, com mais rigor, que a medicalizacao psiquiátrica das crianças tem manifestado saltos exuberantes que parecem não merecer ponderação e que a hospitalização psiquiátrica de crianças começa a merecer uma aragem cada vez mais assustadora. Como se, hoje, o sofrimento das crianças existisse como uma realidade surpreendente e enigmática (quase ao nível duma epidemia atípica), sem que se meçam as consequências que a dor depressiva foi tendo em todas nas gerações dos seus avós e dos seus pais, por exemplo, e que fez com que muito deles a expressassem por perturbações de comportamento gravíssimas e por inibições cognitivas terríveis (o que levou, por exemplo, ao longo dos anos, a presumir-me que havia crianças inteligentes e crianças burras, sem nunca se perguntar em que medida as dores que elas iam enquistando não terão representado uma verdadeira “força de bloqueio” para as competências afetivas e cognitivas que não deixavam de ter).

Por outras palavras: é verdade que há muitas crianças que se deprimem; é verdade que os pais são, hoje, mais competentes como pais do que as suas próprias famílias terão sido (e, por isso, há menos crianças a deprimir, e menos haveria se os pais tivessem menos medo de ser pais e mais escutassem quem os ajude a sê-lo); é verdade que os pais são os verdadeiros anti-depressivos dos filhos (mas não deixa de ser verdade que as famílias mais alargadas de antigamente, por mais que fossem preciosas, não resolviam a dor depressiva da omissão e dos maus tratos de muitos pais, muito mais graves do que aqueles que observamos hoje); e é verdade que as crianças se estragariam menos se trabalhassem menos e vivessem com menos stresse e com menos compromissos (e que, até nisso, os pais podem dar uma ajudinha preciosa). Mas, apesar disso, deixem-nas em paz! E lembrem a quem fala da depressão como um perigo que se cura com gotinhas que a tristeza é um formidável anti-depressivo. Não a tristeza crónica, claro. Mas aquela que todas as pessoas de coração grande, de sangue quente e de sensibilidade à flor da pele não deixam de ter. A tristeza que precisa de ser falada, e a que precisa do corpo, em silêncio, de quem gosta de nós, bem perto do nosso (por dez minutos, que seja). A tristeza que resulta de tantas pequenas-coisas dum dia-não que, quando se vai para a descrever, dá um jeito precioso que haja quem nos sinta em si e que fale por nós. 

Querem, então, filhos capazes de estar tristes e menos deprimidos? Deixem, por favor, de ser pais assustadiços. Façam deles filhos únicos, por meia hora, todos os dias. Nunca comecem todas as conversas, em que vão à procura de os conhecer melhor, com um novo “como foi a escola?”! Deixem-nas brincar, deixem-nas correr, deixem-nas sujar-se, deixem-nas falar e deixem-nas fantasiar! Obriguem-nas a ser crianças em vez de as quererem como jovens tecnocratas de sucesso. Deixem-nas errar e zanguem-se sempre que elas façam de “certinhas”. Lembrem-se do jeito que teria dado terem tido pais a lembrarem-se da sua própria infância quando falam com os filhos. Sintam-nos, primeiro; e imaginem-nos, depois. E arrisquem (arrisquem!) nos palpites que tenham acerca do que se passa com as crianças quando se trata de falar. Mas falem, por favor! E, já agora, nunca se esqueçam: se há aspetos preocupantes na vida das crianças o maior de todos será o lado medricas (e depressivo, até) de muitos pais.

Eduardo sá, in Pais&Filhos


Como melhorar a concentração?





A Falta de atenção e concentração são as queixas mais frequentes, de pais e professores.

Estas dificuldades, estão muitas vezes relacionadas com a pouca motivação para as matérias escolares e com o tipo de ambiente em que o estudo decorre.

Existem vários fatores que podem influenciar a aquisição da aprendizagem: os pensamentos da criança, estão muitas vezes, direcionados para outro tipo de problemas, tais como, conflitos com um colega ou com um familiar, estar ansioso com o teste que vai ter a seguir, a preocupação com um familiar que está doente, o barulho na sala de aula algo que impede a sua concentração. Sendo necessário avaliar o que está a comprometer a aprendizagem da criança. 

A atenção e a concentrado são indispensáveis para assimilar a matéria. Mas, como se pode ter motivação para estudar se as crianças muitas vezes nem sabem a melhor forma de o fazer, ou seja, perceber qual é o método para memorizar as aprendizagens, para conseguir melhor rendimento e menor cansaço. Sempre que se evidenciem sinais de cansaço. é preferível fazer intervalos para descansar, por forma a melhorar o processo de memorização. 

As estratégias que devem ser utilizadas no estudo e que facilitam a memorização:

- Perceber a que horas é melhor estudar. Às vezes é preferível a criança estudar pouco tempo, mas no tempo em que está a estudar, deve-se reforçar a atenção- ir fazendo intervalos quando sente cansaço; 
- Antes de decorar qualquer matéria, é essencial que a criança compreenda as temáticas;
- Perceber como é que a criança estuda melhor, se é a fazer resumos, a ler em voz alta, fazer esquemas ou a sublinhar a matéria;
- Pedir a alguém para lhe fazer perguntas ou fazer fichas após ter estudado uma determinada matéria, é importante para que assim perceba, o que lhe falta estudar melhor; 
- Organizar as matérias por dias de estudo, não estudar só quando há testes e, assim tem tempo para esclarecer as dúvidas com o professor;
- Organizar o estudo com tópicos, nas matérias segundo a sua importância. Perceber quais os conteúdos a que o professor deu mais importância na sala de aula;
- Usar mnemónicas para simplificar a assimilação da matéria, isto é, criar palavras ou frases com as primeiras letras de cada palavra chave – método estudo que consiste numa mnemónica - P.L.E.M.A - Pré-leitura; Leitura; Esquematização; Memorização; Autoavaliação.

Método P.L.E.M.A:
1) Pré-leitura - Ler a matéria toda de forma rápida para ficar com uma noção geral do tema;
2.) Leitura mais aprofundada com muita atenção da matéria, anotando ou sublinhando as coisas mais importantes;
3.) Esquematização – fazer um resumo ou esquema da matéria para facilitar a memorização;
4.) Memorização – Separar a matéria por títulos importantes para ajudar a reter o que se estudou;
5.) Autoavaliação – Recapitular a matéria, seja oralmente ou escrever o que se estudou por temas. Ficando assim, com melhor consciência, não só do que sabe, mas do que lhe falta estudar melhor.

Condições fundamentais para criar o local de estudo:

*Juntar o material que vai precisar para estudar; 
*Arranjar um local em casa para realizar os T.P.C`S e estudar, onde não tenha nada para a fazer ou distrair ex. T.V. ligada, pessoas a entrar/sair ou a conversar;
*Ter boa luz e uma cadeira confortável.

sexta-feira, 20 de março de 2015

O uso do teclado afecta a escrita


Uma pesquisa americana sugere que o uso excessivo de teclados e ecrãs sensíveis ao toque ao invés de escrever à mão, com lápis e papel, pode prejudicar o desenvolvimento das crianças.
A neurocientista cognitiva Karin James, da Universidade de Bloomington, nos EUA, estudou a importância da escrita à mão para o desenvolvimento do cérebro da criança.
Para chegar à conclusão de que teclados e telas podem prejudicar este desenvolvimento, a invetsigadora estudou crianças que ainda não sabiam ler - que poderiam ser capazes de identificar letras mas não sabiam como juntá-las para formar palavras.
No estudo, as crianças foram separadas em grupo diferentes: um grupo foi treinado para copiar letras diferentes enquanto outras trabalharam com as letras usando um teclado.
A pesquisa testou a capacidade destas crianças de aprender as letras; mas os cientistas também usaram exames de ressonância magnética para analisar quais as áreas do cérebro que eram activadas e, assim, tentar entender como o cérebro muda enquanto as crianças se familiarizavam com as letras do alfabeto.
O cérebro das crianças foi analisado antes e depois da experiência e os cientistas compararam os dois grupos diferentes, medindo o consumo de oxigénio no cérebro para mensurar a sua actividade.
Os pesquisadores descobriram que o cérebro responde de forma diferente quando aprende através da cópia de letras à mão de quando aprende as letras digitando-as num teclado.
As crianças que trabalharam copiando as letras à mão mostraram padrões de activação do cérebro parecidos com os de pessoas alfabetizadas, que podem ler e escrever. Este não foi o caso com as crianças que usaram o teclado.
O cérebro parece ficar «ligado» e responde de forma diferente às letras quando as crianças aprendem a escreve-las à mão, estabelecendo uma ligação entre o processo de aprender a escrever à mão e o de aprender a ler.
«Os dados do exame do cérebro sugerem que escrever prepara um sistema que facilita a leitura quando as crianças começam a passar por este processo», disse James.
Além disso, desenvolver as habilidades motoras mais sofisticadas necessárias para escrever à mão pode ser benéfico em muitas outras áreas do desenvolvimento cognitivo, acrescentou a pesquisadora.
As descobertas da pesquisa podem ser importantes para formular políticas educacionais.
«Em partes do mundo há uma certa pressa em introduzir computadores nas escolas cada vez mais cedo, isto (esta pesquisa) pode atenuar (esta tendência)», disse Karin James.
Notícia publicada dia 20/3/2015 no díáriodigital 

Crianças que sentem medo de se separar dos pais?


Porque sentem as crianças medo da separação dos pais?

O medo e a ansiedade de separação, fazem parte do desenvolvimento normal da criança, mas muitas sentem grande ansiedade de separação, porque se sentem sós quando os seus pais ou alguém afetivamente importante, ou seja, as suas figuras de referência não estão próximas da criança, mesmo nos momentos em que estão na presença  de outras pessoas, sentem-se perdidas e sozinhas.   

A criança necessita de ter a representação mental dos pais, de ter construído a sua imagem interna, para conseguir imaginá-los, quando os mesmos não podem estar presentes fisicamente. Para isso, a criança precisa de ligações afetivas fortes e significativas para construir essa representação e, aos poucos ir explorando o mundo que a rodeia.

O medo de se separar dos pais ou de outra figura afetiva significativa, não deve ser encarado por si só como indicador de patologia emocional, porque isso faz parte do normal desenvolvimento da criança. Mas, é esperado que os seus medos desaparecerão à medida que a criança cresce. Contudo, pode evoluir para uma perturbação da Ansiedade de separação, no caso de a criança apresentar ansiedade ou reações de medo atípicos, em função do estádio em que se encontra e comprometa o seu desenvolvimento saudável de adaptação.

Como se caracteriza a Perturbação da Ansiedade de Separação?

As crianças com perturbação da ansiedade de separação, estão constantemente a requerer atenção, manifestam angústia e medo intenso, tanto de separação como com a ideia de separação das figuras de referência. São indicadores desta perturbação, o medo em estar sozinha, dificuldades no sono, receio de ir para a escola e dificuldades de interacção social. Estima-se que existem cerca de 1 a 5% de crianças com este tipo de perturbação.

A ansiedade de separação infantil tem maior incidência entre os 5 e os 12 anos de idade
É importante diagnosticar este tipo de perturbação sempre que os sintomas persistam, com o objetivo de avaliar a criança e ajudá-la a superar os seus medos, facultando estratégias que possibilitem um desenvolvimento saudável.

Os medos podem ser reais ou imaginários, os mais frequentes são:

Até aos 6 meses - medo de luzes e ruídos fortes, receio de perder o aconchego;  
Dos 6 aos 12 meses – medo de desconhecidos, receio da criança em se separar dos pais;
Até aos 2 anos – A criança mantém o medo de separação dos pais e de ser abandonada, receio de estar em sítios desconhecidos, medo de animais;
Entre os 3 e 4 anos – Medo de máscaras e do escuro, continua a sentir receio em se separar dos pais e a ter medo de animais;
Aos 5 anos – Medo de ladrões, mantém receio de separação dos pais e a ter medo de animais;
6 anos -  Medo de monstros, bruxas, do escuro, trovoadas  e de ficar ou dormir sozinho. Continua o receio de separação dos pais;
Entre os 7 e 8 anos – Medo do escuro, medo quando vê alguns filmes ou notícias trágicas, medo de seres sobrenaturais, mantém o temor em ficar sozinho.
Dos 9 aos 13 anos – Medos relacionados com a morte, receio das discussões dos pais, medos sobre ocorrências na escola, receio sobre a sua aparência física.

Em caso de a criança sentir determinados medos fora do período considerado normal, é importante ser realizada uma avaliação quando: 

1.Os seus medo forem constantes e excessivos;
2.As reações da criança possam comprometer as suas actividades diárias;
3.Causam sofrimento à criança e os seus sintomas preocupam os pais;
4. Não existe razão aparente para os seus medos.

Como ajudar a lidar com o medo?

*Quando os pais têm de se separar fisicamente da criança, devem incentivá-la a escolher um brinquedo, um peluche ou uma mantinha para levar com ela. Estes objetos transmitem-lhes segurança, por proporcionar em à criança a representação mental das figuras de referência.

*Os pais devem ser afetuosos e manter uma postura tranquila com a criança nos momentos de separação.

*Ajudá-la a entender que existe um tempo para tudo. Há momentos em os pais podem estar com os filhos, mas existem outros em que têm de ir trabalhar e que não podem estar presentes, mas que voltam, logo que possível para brincar com ela.

*Conceda-lhe espaço, para poder expressar-se livremente. Dê importância aos seus sentimentos e opiniões, tudo isso, proporciona-lhe sentimentos de segurança;

*responsabilize-a quando não realiza as tarefas/atividades da sua competência ou quando não cumpre as regras. Mas não esqueça de a elogiar sempre que as executa. Permitindo assim, que a criança desenvolva melhor consciência das suas atitudes aumente a sua autoestima e autoconfiança;

*Desenvolva a sua capacidade de iniciativa e a autonomia, sempre que possível pergunte-lhe o que gostava de fazer ou como pensa resolver determinada situação;

*A criança deve ter rotinas, o seu quarto deve estar organizado de forma harmoniosa e oferecer segurança.

O diagnóstico precoce e o acompanhamento, reduzem as consequências inerentes neste tipo de perturbação e, consequentemente proporcionam melhor qualidade de vida, não só à criança como aos próprios pais.

* ver artigo - Medos dos 6 meses aos 13 anos