quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Castigos sim ou não?


Parece fácil dizê-lo, mas difícil fazê-lo. Estamos a falar de disciplinar uma criança, de conseguir que ela cumpra as regras e respeite os limites. Porque, na verdade, é simples definir que a hora de deitar é às nove da noite. E que, depois de deitar, se lê uma história, mas apenas uma. E que, a seguir a ler a história, se dá um beijinho e apaga a luz. O complicado é fazer com que esta regra seja cumprida, noite após noite, sem tentativas - cada vez mais sofisticadas - de esticar a corda. Só mais um bocadinho que o programa de televisão está a ser tão divertido! Só mais uma história que esta foi tão pequenina! Só mais um beijinho que ainda não tenho sono!

Pois é, não é mesmo nada fácil fazê-lo. Primeiro, por causa daquele charme que os mais novos sabem utilizar tão bem: vá lá, só mais um bocadinho... Segundo, porque quando a estratégia do charme não resulta, existe uma forte probabilidade de declaração de guerra: não vou para a cama e, pronto, acabou-se! Terceiro, porque os pais, por vezes, também vacilam, perante uma destas duas estratégias. Se estão particularmente bem-dispostos, podem ceder ao pedido do “só mais um bocadinho...” E, se estão especialmente cansados, podem ser vencidos pelas armas dos pequenos guerreiros, ou seja, pela estratégia altamente dissuasora da birra.

Naquela noite em particular, pode ser mais fácil ceder às estratégias de charme ou à declaração de guerra. Evita-se o desgaste das lágrimas e a canseira dos gritos. Mas essa noção de facilidade é uma ilusão. Porque, na noite seguinte, fortalecidos pela vitória do dia anterior, os pequenos estrategos voltam à carga. E, quanto mais vezes vencerem a batalha, mais fácil se torna ganharem a guerra, ou seja, passarem a ir para a cama à hora que muito bem entendem, após uma extenuante sessão de berraria com o volume no máximo.

Por isso, pode ser mais difícil manter a regra do que ceder. Mas só é mais difícil a curto prazo. Porque, a longo prazo, vai tornar tudo incomparavelmente mais fácil. Para que tudo fique bem claro, existe a regra, por um lado. E as exceções, por outro. As exceções podem ter a ver com um dia festivo e são explicadas e consentidas como tal: como exceções. Porque, nos outros dias, a regra mantém-se. E é para se cumprir. Caso contrário, o que devem os pais fazer? Será que devem castigar os filhos?

O papel de modelação dos pais

Se fazer cumprir regras e respeitar limites se afigura, muitas vezes, tarefa difícil, não é apenas porque as crianças insistam em desobedecer, colocando à prova a paciência dos pais. O que torna esta questão das regras e dos limites mais complexa é o facto de não bastar dizer à criança para fazer o que eu digo - é fundamental motivá-la para fazer o que eu faço.

Estamos a falar do papel de modelação dos pais, que assenta essencialmente na força do exemplo. Na verdade, se os pais querem que a criança cumpra as regras estipuladas, têm, antes de tudo o mais, de se dar como exemplo. A criança está atenta a todos os gestos e capta todas as mensagens, sejam elas verbais ou não verbais. Repara na forma como os pais agem com ela, mas também no modo como se relacionam um com o outro e com as outras pessoas. Mais do que às suas palavras, vai estar atenta à forma como se comportam. E é a partir das atitudes que observa que vai modelar o seu comportamento. “A criança precisa de aprender a modelar as suas atitudes a partir da forma como os adultos se acalmam, controlam a situação e procuram uma solução”, clarifica o pediatra T. Berry Brazelton, no livro “A Criança e a Disciplina”, editado pela Presença. Para que aprenda a gerir as suas emoções e a controlar os seus impulsos, necessita de “um modelo de autodisciplina dos pais”.

É por esse motivo que pais que um dia dizem que sim e no outro que não, perante a mesma situação, são altamente desconcertantes para os filhos. “Há pais que quando o dia lhes corre mal no emprego descarregam sobre a criança, não a deixando fazer nada, e quando o dia lhes corre bem a deixam fazer tudo”, constata Luísa Rocha, pediatra do desenvolvimento no Hospital Cuf Descobertas. Na sua opinião, “os pais incoerentes são os que deixam as crianças mais desorganizadas. Nestas famílias, não existe previsibilidade em relação a nenhum comportamento”.

Parece uma relação simples de causa-efeito mas, até agora, nunca tinha sido feita uma investigação alargada sobre a influência que a publicidade televisiva e os brindes dados pelas marcas têm na apetência das crianças pela comida fast food. A pesquisa, assinada por uma equipa da Universidade de Dartmouth (EUA), focou a análise em anúncios das duas empresas de hambúrgueres que mais investem em publicidade em canais televisivos infantis.

O estudo, publicado no “Journal of Pediatrics”, garante que os anúncios comerciais de fast food que exibem a entrega de brinquedos aumentam o desejo das crianças de ir a este tipo de restaurantes. Além disso, quanto mais elas assistem a estes espaços televisivos, maior a quantidade de alimentos ingeridos.

No início deste ano, a Unidade para Avaliação de Publicidade Infantil dos EUA repreendeu uma das principais marcas de hambúrgueres por veicular um anúncio televisivo ao seu menu infantil com algumas das mais populares personagens de animação dos nossos dias. Em resposta, a empresa decidiu retirar o anúncio do ar.

Elsa de Barros, in Pais&Filhos